Quinta-feira, 4 de Agosto de 2011
Barrigada de sushi
Era um restaurante de chineses com comida japonesa que tocava bossa nova. Havia sempre um bebé por perto de cara redonda e olhos tão rasgados como o riso provocado pela atenção da mãe no intervalo do serviço às mesas.
- Tão giro, como se chama?
- Hugo. Assim, num português límpido.
Mescla, uma das minhas palavras preferidas.
Segunda-feira, 1 de Agosto de 2011
The Printed Blog Portugal
É já amanhã. Entra Agosto e a The Printed Blog Portugal. Uma revista que traz para o papel uma colecção de autores do online que sabe pensar, escrever e fidelizar. Construida por quatro mulheres e um homem nas esplanadas de Lisboa. Ao ar livre que é melhor que o condicionado. Para levar para a praia, para o campo, para a cama ou para a casa de banho. Para sublinhar ou rasgar. Para ensinar o cão onde deve fazer o cocó. Para ler no metro ou durante o voo para férias. Cuidado ao abrir: não carregar no Enter.
Símbolos
O Benfica tem uma águia nova. O Sporting mandou vir um leão. O FC Porto já anda a dar esteróides a uma iguana que irá frequentar um workshop no Chapitô para aprender a cuspir fogo. Está oficialmente aberta a temporada da bola.
Quinta-feira, 2 de Dezembro de 2010
Antes que seja tarde...
Ontem foi o dia mundial da luta contra a Sida e foi também terça-feira, feriado. Não sei qual das opções é mais importante para quem lê isto mas a mim fez-me lembrar e querer escrever sobre o Papa. Parece que já não é um pecado tão malvado usar preservativo. As prostitutas podem usar. Ele já deixa. Agora já não há desculpa. Para os restantes mortais que não são prostitutas há o celibato, aquele que tantos padres praticam. Adiante. Gostaria de ver uma estatística sobre o uso dos preservativos AAP e dos preservativos DAP (Antes e Depois da Autorização do Papa). Ao longo da minha vida sexual activa conheci alguns homens que se recusavam a usar preservativo. Ou porque eram alérgicos ao latex, ou porque sentiam o frou frou claustrofóbico , ou porque “não confias em mim?”. Nenhum deles deu a desculpa do catolicismo “Estás louca? Preservativo nunca. A Igreja não deixa!”. Agora já é tarde para essa desculpa. Mas leva-nos a outro estado das relações. Se as prostitutas são as únicas a ser perdoadas pelo uso da borrachinha, no fim do sexo, em vez de um cigarro... são 120 euros, pelo amor de Deus.
Terça-feira, 30 de Novembro de 2010
Se Conduzir, Não Escreva
“Quando não tens nada de jeito para dizer, melhor é não dizeres nada”. E é seguindo este ensinamento que pauto a minha vidinha. Por acaso até tinha coisas para dizer, mas está frio e os dedos congelam, o cérebro quer cama e o corpo tapa-se. Como as palavras. Mas tenho uma novidade: há um mês e meio que ando a tirar a carta. Depois dos 30 fiz-me independente e mulher ao volante. Tem sido uma aventura. Ontem passei no exame de código, não sei bem como. Decorei taras, velocidades dentro das localidades, vias reservadas para automóveis e motociclos e não saiu nada disso. Ando um bocadinho chata com isto da carta, confesso. E obcecada. Os meus amigos já não me suportam porque eu só falo de cedências de passagem. E digo-lhes para não serem cabrões com as mulheres porque estão a praticar uma contra-ordenação grave. Se forem cabrões com as mulheres na auto-estrada, estão a praticar uma contra-ordenação muito grave. Com isto tudo, tenho uma dúvida. Não percebo os engates na estrada. Há tanta coisa para fazer: apertar embraiagem, por a mudança, olhar para os 500 espelhos, para o ângulo morto, carregar no acelerador, no travão, segurar o volante. Não sobra tempo para engates na estrada. Digo eu. Eu mal vejo os peões nas passadeiras, quanto mais os outros condutores. Ah! E esqueci de vez o ginásio. Agora meto a segunda, a terceira, a quarta, volto para a terceira, quarta, quinta, reduzo para quarta, ponho a terceira, volto à segunda. Que canseira. Mas tenho uns gémeos adoráveis. Da barriga para cima estou na mesma mas a verdade é que nunca me chamei Rita Pereira. Eu acho que ela estava demasiado vestida. Sou contra. Se era para fazer da cerimónia dos Emmys uma praia do Meco, aquilo era pano a mais. Contra-ordenação leve. Se ela ler isto e me der com uma marufa na tromba, é contra-ordenação grave. É marufa para magoar. Mas para meter mudanças enquanto as mãos seguram no volante deve dar jeito. Ah! Ontem fiz anos. E recebi de presente um colete reflector, lindo, daqueles que as prostitutas em Espanha são obrigadas a usar. Sinto-me sexy. Com 33 anos. E não digam que é idade de Cristo. Foi a frase que mais vezes ouvi. De crentes, agnósticos e ateus, que negam a existência de Deus mas juram que o filho tinha 33 anos quando morreu. Vamos lá ser sérios: Cristo tem 2010 anos. Não tem 33. Ele ressuscitou e subiu aos céus onde está sentado à direita do pai dele. Há 1977 anos. Ser Cristo é lixado. E monótono.
Quarta-feira, 13 de Outubro de 2010
Isto é só para dizer que também sou moderna e tenho Facebook.
E a quantidade de piadas que por aí circulam sobre os mineiros chilenos? Hoje no Facebook, post sim - post não, saía graçola. Que gente insensível. Eu era incapaz. Algumas piadas eram mesmo boas, mas fogo, não se goza assim ainda por cima com mineiros. E do Chile. Há limites, olha que sinceramente. Até pessoas bonitas e inteligentes tiveram a ousadia, o desplante, o mau gosto de fazer pouco do assunto. Incomoda-me. Mas a caminho de me tornar uma alma lavada e imaculada, fiquei com algum receio de recorrer à minha cápsula da Asma. Ainda me sai um chileno pela boca.
Do Fastio
Gostava de ser qualquer coisa de primeira água. Gosto quando se diz isto de alguém e acredito sempre. Mesmo que ainda não tenha percebido o que quer dizer. Já não gosto tanto se o autor dessa qualquer coisa, a obra de primeira água, comentar ter sido gratificante todo o processo e não sei-quê. Fico arreliada quando ouço dizer “foi muito gratificante”. A obra sabe logo a sopa ou batatas requentadas. Os apresentadores de televisão têm essa mania e maneira de falar. E depois sorriem sempre. Eles não riem, não dobram o riso. Não lhes sai ranho quando arrebatados por um ataque de riso. Eles apenas sorriem, um esboço de graça à boneca de borracha. Esses dizem muitas vezes que “foi gratificante”. As pessoas boazinhas também dizem muito. As tais que simpatizam com toda a gente. Aquelas muito agradáveis. Parecem-me perigosas, essas pessoas. Ninguém consegue ser assim tão querido, o que me leva a concluir que são feitas de afectos falsos. Estou mesmo a ver que o “foi muito gratificante conhecer-te” se transforma numa frase de escárnio mal o outro vira costas. Mas não vai deixar de ser agradável, por uma questão de educação. E aqui há uma fronteira. Nunca sei onde está a melhor terra: se na simpatia hipócrita ou na falta de edução honesta. Eu, porque nisto do trato a terceiros não sou definitivamente de primeira água, nunca sei como me comportar. O melhor é calar-me e pedir para dizerem, por mim, que tenho um problema na fala. Ou então mostro o meu mindinho que é uma coisa que gosto de fazer. Em vez do outro. Um gesto de primeira água. Bruto mas chique de um trago só.
Terça-feira, 12 de Outubro de 2010
Sei que sou muito feminina quando...
Ele vê o Benfica, e eu prefiro ler. Terminei o Bom Inverno do João Tordo durante o Benfica-Sporting e entretive-me com o Para Interromper o Amor da Mónica Marques no Benfica-Braga. O Benfica ganhou sempre. Ler dá sorte ao Benfica. Já tenho livro para o próximo jogo. Como é que se diz? "Carrega, Benfica?" (De que tasca é que terá saído este grito saloio?)
Segunda-feira, 11 de Outubro de 2010
Lições básicas para o homem que quer continuar descomprometido, ter sexo e não passar por cabrão.
Desta vez escrevi o título antes do texto. Sei exactamente o que vou dizer porque é resultado de uma conversa ao telefone com um dos meus melhores amigos. Descomprometido há pouco tempo. Que gosta de sexo. E um doce de pessoa. Por ser manso na medida certa, elas vão ficando e ele não. Quer continuar a debicar de pipi em pipi. Vi que havia ali imbróglio e disse-lhe logo que era urgente esboçar um plano de modo a evitar todos os rótulos de cabrão, cafajeste ou belzebu. Ele descansou-me, ou pensou que me descansaria, ao responder que era muito honesto e que esclarecia sempre que não estava nem aí para começar uma relação. ERRADO! Se um homem disser que não é de compromissos, estará a lançar o anzol ao beiço da menina. A esse discurso chama-se DESAFIO e as mulheres adoram mudar consciências e pessoas por inteiro. São as mulheres e as testemunhas de Jeová. Claro que elas vão ficar. Claro que elas se vão achar todas para derrubar esse muro de testosterona desinteressada. Um homem difícil e bom de cabeça é do melhor que há. Por isso, homem que lês estas palavras, toma nota. Há alguns passos que podem evitar que uma noite se transforme num modus operandi à bode velho, ou pior, se transforme em várias noites:
- No fim da primeira relação sexual, logo ali coladinho ao orgasmo, atira um AMO-TE de olhos nos olhos. Ninguém no seu perfeito juízo é capaz de amar alguém ao fim do primeiro encontro. Se for saudável, fugirá a sete pés.
- Se ela proferir as mais temíveis palavras como resposta, “Eu também”, não ser condescendente. Susto com susto se paga. “Essa boa notícia só pode ser acompanhada dos meus anti-depressivos”. Aspirina para a goela. Quem diz aspirina, diz bolinhas de esferovite. Vale tudo. E se for preciso espuma da boca.
- Se a ideia for apreciar o petisco só mais umas noites, começa a alterar e a subir o tom de voz quando achares que já chega de forrobodó. Arrisca um “Posso levar a minha mãe?” quando combinarem uma noite escaldante num motel. Grita “Achas que vais sair assim vestida??” quando ela ainda estiver nua. “Para quem é que estás a olhar?”, quando estiverem apenas os dois no quarto.
- Se ela responder a tudo com uma gargalhada, cuidado. Podes querer levá-la para o quarto e para a vida. Lá se vai o muro.
Moral da história: Não há. Estou apenas ansiosa pelo próximo date desse meu amigo depois das minhas recomendações. E a imaginá-lo a espumar da boca.
Pobres mas Bem Vestidos
Sim, estamos em tempo de crise. De apertar cintos, espartilhos e corpetes. De dar o corpo ao manifesto, sair à rua de protesto na boca e nada nos bolsos. De cortes e costura aos orçamentos do país e da família. De subidas de juro, ivas e impostos. De andar muito devagar sem cair no buraco onde nos encontramos. De nos arrependermos do voto e nos sentirmos ultrajados. Tempo de gente com fortunas no banco que declara o ordenado mínimo apontar o dedo a corruptos no poder pela perda de subsídios e abonos. Ninguém está satisfeito. Mas hoje, quase meio do mês, a caixa da Zara tinha uma fila interminável à hora do almoço. Insisto: não é início nem fim do mês, não há promoções nem saldos. Pobres mas bem vestidos. Que aqui já não há mulheres de buço nem avental-para-não-sujar-a-mesma-roupa-que-se-vai-vestir-pela-semana-fora. E a Moda Lisboa fartou-se de dar na televisão. Fez-me pensar. E pousar o que tinha escolhido. Não me fazia assim tanta falta. Não fui sequer fazer as mãos. É aprender com os erros dos outros.Dos Governos que têm andado por aí a gastar à toa e a estragar. Ainda dizem que não tenho bom senso. Tenho mais do que isso. Tenho unhas lascadas e por pintar. Hoje fui uma mulherzinha. Amanhã não sei. A Zara ali tão perto. Não é à toa que os corpetes estão na moda.